Wabi sabi e o conflito geracional

 Wabi sabi e o conflito geracional
    Com origem no Japão, o “Wabi sabi” representa uma forma de visão estética do mundo mediante aceitação “da transitoriedade e da imperfeição”. É ver a beleza do “imperfeito, impermanente e incompleto”. Sabe aquela camiseta velha que você foi a algum show inesquecível e que muitas pessoas pedem para que você descarte ou deixe de usá-la, mas você simplesmente não consegue? Pois é, você está aplicando a técnica japonesa do “wabi sabi”.
    Minha falecida avó materna, Dona Herondina, tinha um “anexo” em sua casa cheio de quinquilharias e hoje me pergunto se ela aplicava o “wabi sabi”. Penso, porém, que seu refúgio era outro: a escassez. Minha avó dizia algo do gênero: “quem guarda o que não presta, encontra o que precisa”. E assim os itens iam aumentando…
    Mas eu não julgo a minha avó. Ela viveu em um tempo muito diferente do meu: sem tecnologias (e acredito que por muito tempo sem acesso à luz elétrica), sem muitos itens do supermercado, e sem outras muitas coisas que as gerações mais novas sequer devem ter a mínima noção.
    E esse modo de tratar os objetos, ou melhor, de guardá-los, ou para alguns, de conservá-los, vai de encontro à sociedade líquida onde vivemos. O sociólogo Zygmunt Bauman fala muito sobre isso: tudo é temporário; descartamos com certa facilidade, não só coisas, como também pessoas e relacionamentos. Nada dura. Tudo é feito para acabar logo, dando espaço para um novo “item” de consumo.
    Acontece que, assim como até pouco tempo atrás eu via meus pais impactados com o acúmulo dos meus avós, hoje eu me pego incomodada com o acúmulo dos meus pais. Será que acumular tem relação com a nossa idade? Será que vou me apegar tanto a alguns objetos ou isso é apenas resquício de uma geração que ainda não se foi? Quantos anos/gerações ainda serão necessários para que consigamos parar de guardar aquilo que não é útil?
Wabi sabi ou escassez, o fato é que, “guardar” é uma forma de conservar a nossa memória e valorizar o passado. Sinceramente, espero que isso não se altere. É que às vezes, parece que todos os nossos “bens” vão caber em um celular: moeda, fotos, leituras… No entanto, materializar o que é importante nos conecta com o mundo real.
Como disse Elis Regina “o passado é uma roupa que não nos serve mais”; mas que nem por isso precisamos esquecê-lo ou descartá-lo. Há beleza na camiseta velha. Opa! Acabo de ter um insight: percebi que ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais. Você já olhou quanta coisa “inútil” você guarda no seu computador e no seu celular? Acho que é o ser humano que adora guardar, acumular… Na dúvida, guarde aquilo que te faz bem.

Texto publicado para o jornal O celeiro.

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